O que é o perfeccionismo?

Nós costumamos pensar que ser perfeito seria muito arrogante de nossa parte, como se isso fosse algo desejável e maravilhoso! Mas se ninguém é ou atingiu a perfeição, afinal, quem em sã consciência diria que é perfeito? Como podemos saber o que é a perfeição?

Perfeição é uma coisa que dialoga com nosso passado, é como o anjo da história de Walter Benjamin, avança olhando para trás. A perfeição não existe hoje, mas ela afeta nosso hoje. Todas as pessoas que buscam a perfeição se esforçam para controlar, manipular, planejar e customizar suas experiências para que elas sejam perfeitas. Ser perfeito é ser claro, sem frustrações e decepções. Uma viagem perfeita é aquela em que tudo saiu como planejado, uma pessoa perfeita é aquela que nunca nos frustra ou decepciona. Ou seja, a perfeição é um mar de satisfação plena e sem atritos.

Mas como a vida não é um mar de rosas, os perfeccionistas lutam bravamente, dia e noite, para aplainar as irregularidades de nossos encontros. O que torna as coisas muito trabalhosas para eles, ao ponto deles se “cansarem” com muita facilidade das pessoas e situações, como se tudo fosse muito patético e medíocre diante de seu padrão iso 9000 de razoabilidade e maturidade que eles esperavam que fosse o padrão de Deus quando criou este mundo.

Quando digo que o perfeccionista vive virado para o passado, ou para dentro de sua própria cabeça, eu quero dizer que a perfeição acaba se tornando um fantasma a assombrar as experiências do presente, as coisas novas que tentamos aprender, ou encontrar um possível pretendente, todas as novidades se tornam arriscadas demais e tendem a arranhar as expectativas altíssimas do perfeccionista. Se expor ao novo se torna uma experiência excruciante e frustrante.

Um dia, depois de cair exausto por trabalhar 24 horas por dia como corretor do mundo, se tudo der certo, o perfeccionista pode refletir sobre seu comportamento. Não é fácil soltar o perfeccionismo, afinal, como podemos deixar de almejar a perfeição!? Não seria isso um completo contrasenso? Não, pois o perfeccionismo não tem nada a ver com a perfeição.

Citarei um trecho de Coragem de ser imperfeito, de Brené Brown, para ilustrar o que ela entende por perfeccionismo:

Perfeccionismo é um sistema de crença autodestrutivo e viciante que alimenta esse pensamento primitivo: “se eu parecer perfeito fizer as coisas com perfeição, poderei evitar ou minimizar os sentimentos dolorosos de vergonha, julgamento e culpa.”

Perfeccionismo é autodestrutivo simplesmente porque a perfeição não existe. Uma meta inatingível. Perfeccionismo tem mais a ver com percepção do que com uma motivação interna, e não há maneira de se dominar uma percepção, por mais tempo e energia que se gaste tentando.

Perfeccionismo é eficiente porque, quando experimentamos a vergonha, o julgamento e a culpa, acreditamos que o motivo para isso é não sermos perfeitos o bastante. Em vez de questionarmos a lógica defeituosa do perfeccionismo, nos tornamos mais apegados ao nosso propósito de aparentar perfeição fazer as coisas de maneira perfeita.

O perfeccionismo, na verdade, nos predispõe a sentir vergonha, julgamento e culpa, que gera mais vergonha e condenação: “é minha culpa. Estou me sentindo assim porque não sou bom o bastante.”

Para finalizar, eu gostaria de deixar um trecho de uma citação de Brené Brown que eu achei linda demais sobre este grande tema da autoaceitação, vejam e se alegrem:

“quando criança, eu associava ser perfeita com ser amada, e acho que ainda confundo as duas coisas. Eu me vejo muitas vezes fazendo quase um contorcionismo para que as pessoas não vejam como sou incrivelmente falha e humana.”

Perfeccionismo é uma fantasia que preenche o buraco deixado pela falta que o amor faz em nossas vidas. É uma tentativa desesperada de angariar aceitação, “me ame porque eu sou perfeitamente adorável”. E assim vivemos para deixar tudo perfeito, sem perceber que secretamente nos impedimos de realizar encontros possíveis, e encontrar o amor que tanto ansiamos - a busca pela perfeição nos aprisiona em uma torre de expectativas e solidão.

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